Peter Beinart e Sheldon Richman

BEST-SELLER DO NEW YORK TIMES – Um apelo ousado e urgente do aclamado colunista e comentarista político, abordando uma das questões mais importantes do nosso tempo

“Neste momento doloroso, a voz de Peter Beinart é mais vital do que nunca. Seu alcance é amplo — da tragédia do Oriente Médio de hoje à África do Sul que ele conhece bem, a eventos de séculos atrás — sua bolsa de estudos é profunda e seu coração é grande. Este livro não é apenas sobre ser judeu na sombra da guerra de hoje, mas sobre ser uma pessoa que se importa com a justiça.” — Adam Hochschild, autor de American Midnight e King Leopold’s Ghost

Na visão de Peter Beinart, uma história domina a vida comunitária judaica: a da perseguição e da vitimização. É uma história que apaga grande parte da nuance da tradição religiosa judaica e distorce nossa compreensão de Israel e da Palestina. Depois de Gaza, onde textos, história e linguagem judaicos foram usados ​​para justificar o massacre em massa e a fome, Beinart argumenta que os judeus devem contar uma nova história. Após esta guerra, cujo horror ecoará por gerações, eles devem fazer nada menos do que oferecer uma nova resposta à pergunta: O que significa ser judeu?

Beinart imagina uma narrativa alternativa, que se basearia nos esforços de outras nações na reconstrução moral e em uma leitura diferente da tradição judaica. Uma história na qual os judeus israelenses têm o direito à igualdade, não à supremacia, e na qual a segurança judaica e palestina não são mutuamente exclusivas, mas interligadas. Uma que reconhece o perigo de venerar estados às custas da vida humana.

Being Jewish After the Destruction of Gaza é um argumento provocativo que expandirá e informará uma das conversas definidoras do nosso tempo. É um livro que somente Peter Beinart poderia escrever: um trabalho apaixonado, mas comedido, que reúne sua experiência pessoal, sua compreensão dominante da história, sua compreensão aguçada de dilemas políticos e morais e uma visão clara para o futuro.

Este livro é muito mais do que uma merecida celebração da sabedoria intelectual de Richman e das astutas análises políticas e históricas ao longo dos anos. É, antes de tudo, um desafio sério e convincente ao prolongado ardil sionista e às mentiras que antecedem o estabelecimento de Israel. De acordo com a propaganda sionista, apoiada por sucessivos governos dos EUA, Israel é um país pacífico, progressista e democrático que enfrenta hordas de árabes “antissemitas” em guerra.
“Na rica mitologia do Oriente Médio, nenhum mito tem efeitos mais malignos sobre os assuntos atuais do que aquele que diz que (por décadas) Israel está pronto para negociar a paz”, escreveu Richman, e que “a liderança árabe está comprometida (e continua comprometida) com a destruição de Israel”.
Na verdade, Israel precisa de mais para sobreviver em sua atual forma antidemocrática, racista e colonial do que um poderoso exército, armas nucleares e apoio cego dos EUA. Também precisa sustentar, pelo maior tempo possível, o mito de que é um refúgio democrático em um mar tumultuado de árabes autoritários e violentos, que são uma ameaça não apenas para o povo judeu (todos eles), mas também para a civilização ocidental.
O livro de Richman é um livro de quebra de mitos políticos, um ofício que o autor dominou através de muitos anos de erudição moralmente orientada, pesquisa meticulosa e um estilo de escrita eloquente. E, em última análise, este é o tipo de verdade contumaz que Israel mais teme.

Chegando A PALESTINA/ Sheldon Richman – Instituto Rothbard

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da fé judaica são americanos por nacionalidade e judeus por religião, assim … zayde], Sam Richman [Shlomo Hersh ben Moshe], um judeu ortodoxo alegre …

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Antissionismo

Dissidência judaica: Israel está a perder um dos seus principais apoios

25 de novembro 2024 – 10:33

Vários líderes de movimentos judaicos anti-sionistas na Europa e nos EUA, todos eles descendentes de sobreviventes do Holocausto, contam-nos como trabalham para organizar uma oposição cada vez mais ativa ao Estado sionista e que é frequentemente desconhecida da opinião pública.

por

Nelson Pereira

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Manifestação da Voz Judaica pela Paz Justa no Médio Oriente.

Enquanto Telavive não cessa de repetir que tudo aquilo que o seu exército fez nos últimos 12 meses em Gaza e agora no Líbano é feito em defesa dos judeus que vivem em Israel e no mundo, há vozes que apontam o apoio militar e diplomático dos EUA e seus aliados a Israel como prova de que um “lóbi judeu” domina o mundo, um libelo tipicamente antissemita.

A desmentir estas duas narrativas, existe uma oposição crescente e muito ativa de judeus no mundo inteiro às políticas do Estado sionista. Uma oposição frequentemente desconhecida da opinião pública, tal como poucos são os que sabem que esta oposição tem raízes fundas em correntes políticas e religiosas da história judaica.

Recentemente uma manifestação em Haia, nos Países Baixos, exigia diante da sede oficial do Tribunal Penal Internacional que este emita os mandatos de captura contra o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Yoav Gallant, por suspeita de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

A manifestação fora organizada pelo movimento judeu anti-sionista Erev Rav e reunia judeus vindos de toda a Holanda. Do outro lado da rua, havia uma contra-manifestação convocada por uma sinagoga estreitamente ligada a Israel. Um grupo muito menor, composto maioritariamente por cristãos fundamentalistas e pouquíssimos judeus. “Nós temos muito poucos recursos, e contudo a sinagoga com todos os meios de que dispõe não conseguiu sequer reunir judeus, enquanto na nossa manifestação eram numerosos,” conta Yuval Gal, um dos fundadores de Erev Rav.

Yuval Gal e Phineas Shapiro da Erev Rav.

Yuval, que nasceu em Tel Aviv, deixou Israel com 30 anos porque não queria que o seu filho crescesse numa sociedade “onde querem ensiná-lo a odiar”. Envolvido no ativismo político desde a adolescência, diz ter-se dececionado cedo dos acordos de Oslo, quando percebeu que deles não nasceria um estado Palestiniano nem seria acordado o direito de retorno aos refugiados palestinianos. Estava na manifestação em Telavive na qual foi assassinado o primeiro-ministro israelita Yitzhak Rabin, em novembro de 1995.

Na sua família de liberais sionistas nunca se falara das origens do conflito, da deslocação em massa e expropriação de palestinianos em 1948 (Nakba), nem dos refugiados palestinianos. A discriminação que sofreu o ramo da família descendente de judeus bucaranos da Ásia Central foi para Yuval o primeiro sinal de alerta para as profundas divisões que fragmentam a sociedade israelita. Depois do 7 de outubro, as divisões agravaram-se. “Num artigo recente no diário Haaretz, um ex-general diretor da academia militar dizia que se a guerra se arrastar por mais um ano Israel vai colapsar. E num vazamento de conversas telefónicas com a mulher, Netanyahu acusava os generais de moverem uma conspiração contra ele. Eles odeiam-se uns aos outros. O projeto sionista chegou ao fim da linha.”

Segundo Yuval, o regime israelita percebe que está também a perder o apoio da diáspora. “E não ajuda Israel ter vindo a fortalecer laços com partidos de extrema-direita e neo-nazis na Europa e nos EUA e com grupos fundamentalistas cristãos como os evangélicos norte-americanos,” acrescenta. “Por isso ouvimos hoje judeus que aderiram a movimentos judaicos anti-sionistas dizerem que pela primeira vez na vida se sentem orgulhosos de serem judeus. E livres do sionismo.”

No dia 10 de março cerca de mil manifestantes reuniram-se em Waterlooplein, no centro de Amesterdão, para protestar contra a presença do presidente israelita, Yitzhak Herzog, na cerimónia de abertura do novo Museu do Holocausto. A multidão agitava bandeiras palestinianas e transportava faixas com textos como “Museu sim, Herzog não” e “Nunca mais significa agora”. A manifestação, convocada pelo Erev Rav, contou com o apoio de outros movimentos anti-sionistas judeus da Holanda, entre os quais Uma Voz Judaica Diferente (Een Ander Joods Geluid, EAJG).

Jaap Hamburger, que lidera o EAJG, nasceu em 1950 de pais judeus que tinham perdido uma filha de um ano de idade no campo de concentração nazi alemão de Bergen-Welsen. Acusa Israel de pôr em perigo os judeus da diáspora com a insistência em catalogar de anti-semitismo toda a crítica do estado sionista. “As organizações judaicas oficiais holandesas são todas pró-sionistas, com laços fortes a Israel. No entanto, escondem o sionismo por detrás de uma máscara de judaísmo e recorrem a acusações de anti-semitismo sempre que são criticadas.” Na opinião de Jaap, esta estratégia mina o combate necessário contra as verdadeiras atitudes de racismo anti-judaico e “torna-se ainda mais revoltante quando vemos Israel conceder legitimidade a políticos de extrema-direita que defendem Israel”.

Jaap Hamburger da EAJG.

Movimentos como EAJG e Erev Rav existem em vários países europeus. A União Francesa Judaica pela Paz (UJFP) tem uma longa história de oposição a Israel. O seu co-presidente, Pierre Stambul, denuncia a censura dos meios de comunicação social em França, que “abafa as vozes críticas em relação a Israel e ao genocídio em Gaza”.

Filho de judeus que combateram na resistência francesa contra a ocupação nazi alemã, Stambul nasceu cinco anos depois da II Guerra Mundial. O pai, que fizera parte do Grupo Manouchian, foi preso pela polícia francesa, torturado, entregue à Gestapo e deportado para Buchenwald, tendo sido um dos poucos militantes do grupo a sobreviver ao campo de concentração.

Muito influenciado pelo Maio de 68 em França, a sua rutura com o sionismo foi um processo que levou vários anos. “O facto de Israel estar em todos os lados errados, ao lado dos torturadores argentinos, dos racistas da África do Sul, dos Estados Unidos no Vietname, fez-me perceber o papel desestabilizador de Israel no mundo,” recorda.

Empenhado em combater todas as injustiças, não queria ser ativo numa associação que se intitulasse judaica. Diz que acabou por decidir aderir à UJFP, porque entendeu que “é muito importante não deixar o termo ‘judaico’ aos fascistas e aos colonialistas”.

A UJFP publicou recentemente o livro “Anti-sionismo, uma história judaica”. Para Stambul, “há que reivindicar a verdade histórica, pois o anti-sionismo foi desde o início essencialmente a oposição dos judeus de todo o lado, religiosos, binacionais, assimilacionistas, judeus orientais, contra o sionismo”. Na sua opinião, a ideologia sionista “não é apenas um crime contra os palestinianos, é também um insulto à memória, à história, às identidades judaicas”.

O ativista denuncia o sionismo enquanto uma teoria de separação, segundo a qual judeus e não-judeus não podem viver juntos, e sublinha que esta ideia coincide com o projeto dos anti-semitas, que é retirar os judeus da Europa. E enfatiza que o que permitiu a permanência dos brancos na África do Sul foi o fim do apartheid e não a manutenção do apartheid. “Da mesma forma, o que vai permitir a permanência dos judeus israelitas ali é o fim do sionismo e um estado que reconheça a igualdade de direitos”.

“O sionismo copiou dos nacionalismos europeus a ideia terrível e criminosa do Estado etnicamente puro, uma ideia que provocou duas guerras mundiais e conduziu ao fascismo e ao genocídio atuais,” diz Stambul, acrescentando que se trata de um nacionalismo muito particular, pois inventou um povo, uma língua e uma terra. “A noção de povo judeu é uma noção religiosa. Não faz nenhum sentido dizer que eu pertenço ao mesmo povo que um judeu iraquiano ou iemenita. E havia várias línguas judaicas, mas o sionismo inventou o hebraico, que para os religiosos não pode ser usado como língua secular.” Quanto à terra, Stambul recorda que “para os judeus religiosos era proibido regressar à ‘terra santa’ antes da chegada do Messias, enquanto os judeus seculares entendiam que o combate pela emancipação e a igualdade de direitos deve ser feito onde vivemos.”

Pierra Stambul da UJP.

O filho de sobreviventes do genocídio nazi dos judeus europeus acusa Israel de instrumentalizar o trauma do holocausto. E recorda a repressão e humilhação com que foram confrontados os sobreviventes do Holocausto quando chegaram a Israel. “Chamavam-lhes cobardes, desprezavam-nos por não corresponderam ao modelo mítico do novo hebreu invencível. O nazismo e o estalinismo já tinham antes querido criar um homem novo e sabemos bem onde isso nos levou.”

Mas é lá de onde vem o principal apoio militar, diplomático e financeiro a Israel que as vozes de judeus anti-sionistas se têm feito ouvir mais numerosas. O movimento norte-americano Voz Judaica pela Paz (Jewish Voice for Peace, JVP), a maior organização anti-sionista judaica progressista do mundo, tem mobilizado desde o início da campanha militar de Israel em Gaza manifestações que exigem um cessar-fogo.

Em Outubro de 2023, centenas de judeus ligados à JVP e a outras organizações judaicas anti-sionistas foram presos por protestarem dentro da sede do congresso americano em Washington enquanto milhares se manifestavam no exterior. Em Julho, voltaram aos edifícios do congresso, na véspera do discurso de Netanyahu, para exigir um embargo de armas a Israel. Centenas de manifestantes com camisolas vermelhas onde se lia “Os judeus dizem stop ao envio de armas para Israel” e “Não em meu nome”, entoavam slogans como “Deixem Gaza viver”.

Voz Judaica pela Paz no Capitólio.

Tallie Ben Daniel, diretora-gerente de JVP diz que foi na universidade que começou a dar-se conta de que “a ideologia sionista assenta na deslocação dos palestinianos, que para Israel ser um estado judaico, não pode haver palestinianos”. E acusa Israel de instrumentalizar o Holocausto “para justificar o que tem feito aos Palestinianos” e de ter recusado acordos de cessar-fogo que teriam salvo as vidas dos reféns. “Todos esperávamos que o governo israelita iria negociar a libertação dos reféns capturados pelo Hamas. E foi uma surpresa terem recusado acordos de cessar-fogo que estavam na mesa de negociações desde Outubro e teriam libertado centenas de pessoas e salvo centenas de vidas”.

Não perde de vista porém a responsabilidade dos Estados Unidos e sublinha que “se Joe Biden telefonasse amanhã ao primeiro-ministro israelita e lhe dissesse: não lhe daremos mais armas até que pare com isto, o genocídio estancaria no dia seguinte”.

Um dos fatores que explicam a derrota eleitoral de Kamala Harris, segundo o comentador político de origem judaica Peter Beinart, foi não se ter distanciado da política de Biden de apoio incondicional a Israel em Gaza e no Líbano. Entre os tradicionais apoiantes do partido democrata decididos a recusar-lhe o voto contava-se um número significativo de judeus. Um deles era Rich Siegel, um músico e compositor de Teaneck, Nova Jérsia, muito ativo na sua comunidade judaica contra a realização na sinagoga local de vendas de propriedades localizadas em territórios palestinianos, nos colonatos na Cisjordânia. Ressalvando que não votou em Donald Trump, Siegel diz que teria votado Harris se ela se tivesse comprometido a obrigar Israel a um cessar-fogo e a ordenar um embargo de armas.

Rich Siegel, um músico e compositor de Teaneck

Em Fevereiro, num vídeo que se tornou rapidamente viral, Siegel falou à comunidade judaica de Teaneck para alertar que a venda de propriedades na Cisjordânia ocupada violaria as leis nacionais e internacionais. E quando os seus argumentos não demoveram os organizadores, convocou uma manifestação que reuniu centenas de pessoas em frente da sinagoga para protestar o evento imobiliário.

“Já tinha organizado uma manifestação contra um evento semelhante aqui em Teaneck em 2007, não foi a primeira vez. E organizei outra grande manifestação quando uma sinagoga local convidou oradores da Zaka, a organização de primeiros socorros que contou mentiras sobre bebés decapitados e violações em série cometidas pelos militantes do Hamas no 7 de Outubro.”

Os bisavós de Siegel eram judeus da Europa de Leste que imigraram para Nova Iorque no início do século XX. Os membros da família que permaneceram na Europa foram assassinados pelos nazis. Cresceu numa comunidade ligada a uma sinagoga reformista em Nova Iorque onde lhe inculcaram a ideia de que o sionismo é parte integrante e inseparável do judaísmo e que os judeus só estão em segurança em Israel, especialmente depois do holocausto.

Diz que estava tão imerso numa “lavagem cerebral” de desinformação que só muitos anos depois começou a perceber que o fizeram acreditar numa coleção de mentiras. “Eu tinha absorvido todo um sistema de desinformação sobre Israel, segundo o qual nunca fizemos nenhum mal aos árabes, queríamos apenas ser bons vizinhos, mas eles odeiam-nos de um ódio irracional, tal como toda a gente nos odeia, por sermos judeus.”

Foi já adulto que Rich Siegel se deu conta de que nas sinagogas pró-sionistas “a religião foi substituida por uma idolatria, ali são adorados dois ídolos: o estado judaico e a identidade tribal judaica”. Com conceitos que não existiam no judaísmo, enfatiza. “Os rabinos sionistas dizem que a redenção da terra é um dever religioso. Redenção da terra? A redenção da terra significa colocar os judeus na terra e tirar os muçulmanos e os cristãos de lá.”

A campanha militar de Israel em Gaza fez-lhe ver o estado sionista em cores mais cruas que nunca. Siegel diz-se “completamente devastado” desde que ouviu médicos falarem sobre a sua experiência em Gaza. E não vê futuro para o projeto sionista. “Israel e o movimento sionista estão a suicidar-se neste momento. Mas, tragicamente, estão a cometer um genocídio no processo. E há uma enorme negação em torno deste genocídio,” conclui.

Os protestos contra as violências impostas por Israel à população de Gaza têm sido reprimidos nalguns países com maior ou menor brutalidade policial, mas é na Alemanha que as manifestações pro-Palestina têm conhecido maior hostilidade por parte das autoridades. Têm sido cancelados e proibidos inúmeros eventos, painéis e palestras. Um congresso pró-Palestina organizado em Abril em Berlim, que contava com vários oradores internacionais, foi invadido pela polícia e interrompido logo após a primeira palestra. Um nível de repressão pouco noticiado fora do país, assim como não chega às primeiras páginas o facto de haver uma proporção muito significativa de judeus nestas manifestações.

“Em nome da luta contra o anti-semitismo,” a Alemanha está a atacar os judeus anti-sionistas, diz Wieland Hoban, presidente da associação Jüdische Stimme für gerechten Frieden in Nahost (Voz Judaica pela Paz Justa no Médio Oriente), fundada em 2003 em Berlim.

Wieland Hoban, presidente da associação Jüdische Stimme für gerechten Frieden in Nahost

Nos últimos meses, a Voz Judaica pela Paz enfrentou várias formas de repressão por parte do governo alemão, incluindo o congelamento de contas bancárias e o cancelamento de eventos. Membros do movimento foram presos, despedidos dos seus empregos e censurados. “Esta repressão é uma forma de anti-semitismo moderno. Não no sentido de sermos um alvo por sermos judeus. O que é anti-semita é que o establishment alemão quer decidir quem é judeu. E diz-nos que não somos judeus se não apoiamos Israel,” constata Hoban.

Confundir Israel com judeus tem uma consequência grave, segundo o ativista, pois “beneficia os principais apoiantes de Israel, os fanáticos evangélicos dos EUA e a extrema-direita pró-sionista, que permanecem na sombra enquanto os judeus são culpados pelos crimes israelitas”.

Para a classe política alemã, a identidade judaica tem Israel como pilar central e rejeitar o que Israel faz e representa, significa rejeitar a identidade judaica,” denuncia Hoban, acrescentando que “é esta aberração cognitiva que aos olhos deles faz de nós, judeus anti-sionistas, anti-semitas”.

O ativista frisa que esta ideia tem raízes profundas. “A associação dos judeus a Israel faz parte da narrativa da redenção nacional na Alemanha. Se o Holocausto é o pecado original da Alemanha moderna, então a única coisa que pode moderar essa culpa é o apoio incondicional a Israel, que é apresentado como o mais próximo de um final feliz após o Holocausto.”

“Ao sermos anti-apartheid ou anti-ocupação, atrapalhamos esta narrativa,” acrescenta, para explicar que o establishment alemão não pode tolerar qualquer solidariedade com os palestinianos porque “qualquer pessoa que lembre ao mundo que Israel foi criado através de grandes injustiças e continua a perpetrar crimes contra os palestinianos está a revelar que o mal feito não desapareceu, a culpa é que foi transferida para os palestinianos”.

Movimentos como Jüdische Stimme são muito problemáticos para esta narrativa oficial, frisa Hoban, pois “o apoio a Israel entendido como uma forma de compensar o Holocausto é fonte de um sentimento de superioridade moral, e isto só funciona enquanto for possível identificar os judeus com Israel”.

Entretanto já há casos de pessoas originárias de países árabes, e especialmente palestinianos, que em processos de naturalização foram interrogadas sobre as suas opiniões sobre Israel. “O disparate de perguntar a um refugiado palestiniano se reconhece o direito de Israel existir, é surreal,” diz Hoban, para rematar que tudo isto revela que para o estado alemão Israel faz parte da identidade oficial. “Reconhecer a legitimidade de Israel vai de par com o reconhecimento da legitimidade da Alemanha.”

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