NÃO EM NOSSO NOME
VOZES JUDAICAS POR LIBERTAÇÃO
NÃO EM MEU NOME
Penso que um ente espiritual superior – o Deus dos Judeus, dos Cristãos ou dos Muçulmanos TAMBÉM DIRIA ISSO : “NÃO EM MEU NOME !!!!!”
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NOT IN OUR NAME in USA
JUDEIDADE EM DESLOCAMENTO
Abaixo video registrando protesto judaico no Capitólio Parlamento estadunidense – Apesar do sofrível e pobre comentário que acompanha
Judias e judeus tornando-se solidários à causa palestina
Este texto foi escrito em 2021 por membros fundadores do Vozes Judaicas por Libertação e recém-publicado no livro “Becoming Pro-Palestinian: Testimonies from the Global Solidarity Movement” (Bloomsbury, 2024), organizado pela professora britânica Rosemary Saygh e que conta com textos de ativistas solidários à causa palestina em todo mundo, inclusive um prefácio do professor estadunidense Noam Chomsky
Bianca Marcossi, Bruno Huberman, Juliana Muniz, Shajar Goldwaser e Yuri Haasz
13 de março de 2024
Na manhã de 6 de agosto de 2014 um pequeno grupo de aproximadamente doze jovens judeus, trajando keffyehs e cartazes com dizeres como “Enquanto judeus, recusamo-nos a ocupar”, “Não há paz sem justiça” e “Não em nosso nome”, se reuniram em frente ao edifício onde fica localizado o Consulado de Israel em São Paulo. Naqueles dias, Israel promovia um dos mais destrutivos e letais ataques à Faixa de Gaza, impactando a vida dos mais de 2 milhões de palestinos que vivem confinados sob o bloqueio israelense. Fotografados pelos principais veículos de comunicação de São Paulo, e recebendo olhares desaprovadores dos seguranças e de outros judeus conhecidos que estavam ali, enunciávamos, da calçada pública e em voz alta, o nome e a idade de cada vítima palestina. Esse é o marco que iniciou o coletivo Vozes Judaicas por Libertação, que todos nós integramos.

A perseguição aos movimentos comunistas, aos quais os judeus antissionistas eram vinculados durante a ditadura militar (1964-1985); a ascensão socioeconômica da comunidade judaica brasileira, que deixou de pertencer majoritariamente à classe trabalhadora; e a hegemonia do paradigma da paz liberal dos anos 1990, apagaram do cenário político e social os grupos judeus críticos ao sionismo. Esse ato de 2014, embora um tanto improvisado, significou o encontro de trajetórias de rompimento com o sionismo – fundado, entre outras políticas, sobre a expropriação de palestinos em 1948, a apropriação de terras em 1967, o confisco em curso de terras por meio do colonialismo e a negação do direito de retorno dos palestinos –, e iniciou uma busca por um novo lugar em que pudéssemos publicamente manifestar nossa solidariedade à luta palestina e, ao mesmo tempo, afirmar uma judeidade antirracista, anticolonial e antiapartheid, uma judeidade não sionista.
Nesses últimos dez anos, com a ascensão do governo Jair Bolsonaro e do consequente estreitamento das relações Brasil-Israel, têm ocorrido diversas transformações e disputas dentro e fora da comunidade judaica em relação à Israel-Palestina: vemos tanto um fortalecimento de uma direita sionista explicitamente alinhada ao bolsonarismo, como manifestações que reencarnam velhos paradigmas e crenças como “Dois Estados para Dois Povos”. Contra este “sionismo de esquerda” (que tenta reencarnar Oslo e fala de Palestina e palestinos sem citar as palavras proibidas, como “direito de retorno”, “reparação”, “justiça” e “igualdade”), e repudiando o sionismo fascista, nos vemos sem lugar nessa comunidade judaica. E, junto a esse deslocamento, essa “strangeness”, uma tarefa: a de construir uma outra judeidade, diferente daquela em cujo nome Israel fala, e que, recusando um paradigma exclusivo e excludente, seja fundada numa ética e política centradas na subalternidade, seja na Palestina, ou no Brasil.
O testemunho a seguir reúne experiências nossas que, embora tenham vivido percursos únicos, passaram por alguns marcos que entendemos comuns nessa trajetória de “tornar-se pró-palestino”. Assim, essa é uma ficção de testemunho coletivo, a forma narrativa que encontramos para compartilhar nossas histórias de rompimento. Buscamos romper com um lugar interno na comunidade judaica, no qual o sionismo, mesmo aquele intelectualizado e dito de “esquerda” no Brasil, e firmado sobre os destroços de nossos avós, nos definia, organizava nossa realidade como “judeus da diáspora”, e moldava nossa relação com a região, a Palestina e os palestinos. E também romper com um lugar externo, comunitário e político, perante o restante da sociedade brasileira. Esse deslocamento nos leva a um único lugar possível: de uma solidariedade ativa à (re)existência palestina frente à violência perpetrada por Israel desde antes de 1948. Essa narrativa se vê inserida, assim, num contexto de busca por esse novo lugar, a partir desse ponto de não retorno, fruto do encontro com a palestinidade e sua condição de subalternidade.
Tornando-se judeus-sionistas
Certamente são as famílias o espaço privilegiado no processo de formação da judeidade. São elas que trazem os laços consanguíneos, culturais e étnicos que asseguram a manutenção identitária entre as gerações, assim como tradições festivas e afetivas. Enquanto judeus brasileiros, das famílias herdamos memórias de deslocamento e refúgio, tanto do antissemitismo europeu como da pobreza na Turquia, e também do orgulho de seguir sendo judeus “apesar de tanto ódio e perseguição”. Alguns de nós, em nossas trajetórias familiares de exílio, acabaram tendo Israel como local de nascimento, mas o Brasil como território de criação.
Contudo, apesar da centralidade das famílias nessa formação, percebemos as instituições judaico-sionistas, formais e informais, como os principais espaços de construção da subjetividade sionista. Inclui-se aí, sobretudo, escolas, clubes e movimentos juvenis. Foram nesses locais que aprendemos a nos identificar com Israel, entendendo-o como um espaço fundamental para a nossa sobrevivência. Ali se construía um laço indissociável entre o judaísmo, essa categoria abstrata e diversa, e o sentimento quase físico de pertencer a um lugar. A bandeira de Israel sempre estava ao lado da bandeira do Brasil; e entoávamos o Hatikva, o hino israelense, com maior paixão que o brasileiro. Mesmo numa escola judaica brasileira, o que valia mesmo eram os símbolos e marcos históricos israelenses, em especial Yom Hatzmaut (“Dia da Independência”) e Yom Hazicarón (“Dia da Lembrança dos Soldados Mortos de Israel e das Vítimas do Terrorismo”).
MANIFESTAÇÕES DE JUDEUS ANTISSIONISTAS
https://youtube.com/shorts/WHFZ7u5dt9g?si=uluc-_QQ8ft4FJ0S
https://youtube.com/shorts/-GcfYQr-Z_Y?si=o3ztJ38VYurzaHSV
https://youtube.com/shorts/g0y6fYTudm4?si=sW22WQB42aEGjog3
https://www.instagram.com/reel/C59PmY1LCpd/?igsh=bXd3Y3A0MGo2ZDN1




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